É campeão



Esta é uma edição histórica, para ler e guardar. Fala da historia de um povo e sua paixão por um time chamado Bahia. Fala de 11 heróis guerreiros que em campo, 10 anos e um dia depois, levantaram o titulo de campeões baianos. Fala de uma tarde de sol em que Salvador se vestiu de azul, vermelho e branco para celebrar uma emocionante decisão, fala da alegria que só quem ama de verdade esse time chamado Bahia pode sentir nesse momento.

E o que é essa paixão que passa de pai para filho ainda no ventre da mãe, que transpõe gerações e parece não ter fim? Só quem è tricolor sabe explicar. Paixão que vem de berço, capaz de fazer inocentes criaturinhas gritar gol... Bahia..., antes mesmo de falar papai ou mamãe.

Paixão que faz sisudos executivos se unirem com vagabundos num abraço suado, emocionado, em cada gol, até o apito final do juiz. Que faz risos e lágrimas parecerem uma coisa só, misturadas em rostos marcados pelo tempo, mas que se renovam a cada conquista desse time chamado Bahia.
Dizem que se um exame de sangue for feito em muitos desses fanáticos que se espalham por toda essa nação haveria de detectar uma curiosa anomalia: o sangue deles é azul, vermelho e branco. Impossível? Só se for para a ciência. Para Deus e o Bahia, nada é impossível, que o diga o emocionante 3 a 3 de ontem.
As histórias e conquistas desse time estão aí para provar. E ele já nasceu para vencer, surrando o rival de ontem, na primeira vez em que se cruzaram num campo de futebol, num histórico 3 a 0, em 1932. E olha que foi num torneio início, rapidinho.
Mas, ao longo dos seus 81 anos, foi capaz de façanhas que pareciam impossíveis, como bater o Santos de Pelé em plena Vila Belmiro e também no Maracanã, para conquistar a primeira Taça Brasil; e depois, arrancar um empate suado, construído com garra e sangue no Estádio Beira Rio, contra o Internacional, impulsionado por sua imensa torcida, para ganhar sua segunda estrela no peito de campeão do Brasil.
E ontem não foi diferente. Em campo, entraram mais que 11 jogadores. Entraram 11 guerreiros dispostos a tudo para devolver o sorriso ao rosto dessa imensa nação, a conquistar esse título que vale muito mais que uma taça. Vale a retomada definitiva da hegemonia no futebol baiano, perdida há 11 longos anos. 11 valentes guerreiros comandados por um general que sempre fez da estratégia uma arma, da sutileza nos movimentos algo capaz de desorientar o adversário, o mestre Paulo Roberto Falcão.
E até ele se deixou contaminar pela emoção dessa decisão, pela angústia dessa conquista. Até o apito final do juiz e a explosão máxima de alegria.
Verdade que o adversário também lutou muito e vendeu caro a rendição. Custou a sucumbir ante os valentes campeões, mas essa conquista parecia escrita nas estrelas. Foi o prêmio ao melhor time em toda a competição, ao melhor ataque, ao melhor conjunto, aos guerreiros que souberam, em campo, mais que honrar aquela camisa e aquele escudo, mas transformarem o grupo num bravo e destemido exército, unido por um só ideal, para a grande batalha final: a vitória.
E o prêmio aí está.
Vibra, Diabo Louro Junior, mesmo sem entrar em campo neste domingo. Você é único Diabo tolerado e amado entre nós. Chora, gigante Titi. Chora como criança, sem vergonha de ser feliz, porque a emoção de ser campeão e capitão com essa camisa é eterna e vai elevá-lo à galeria dos imortais heróis tricolores.

Curva-se, grande Fahel, com toda sua crença e fé, e agradece ao Senhor por esta conquista. Foi dele, ungido neste sincretismo que marca a religiosidade que todos nós carregamos no coração, e que tem na Bahia seu templo sagrado, que veio a força para os desarmes decisivos nas investidas do adversário e para aquele gol tão importante. Comemora, grande Diones. Só você é bi neste domingo.

Ri, gigante Souza. Ri, com vontade, dos incrédulos da sua arte por ser grande e meio desengonçado, sacode essa camisa com força ao vento e diz com orgulho: 'eu sou campeão pelo Bahia.

Eu devolvi a alegria e a felicidade a esta gente'. Desaba, menino Gabriel, vive sua primeira grande emoção entre tantas que a vida ainda vai lhe reservar nos campos de bola pelo Brasil e, com certeza, pelo mundo.

Chegue aonde chegar, quem sabe para vestir um dia uma camisa igual à vestida por outro menino que ralou nos campinhos do Fazendão e hoje chama-se Daniel Alves, essa conquista será única, eterna, mágica, para ser lembrada por toda vida. Ajoelha, Marcelo Lomba, e agradece a Deus por ter te abençoado nesta tarde decisiva, ter lhe dado mãos tãos hábeis e movimentos tão precisos. Comemorem todos. Entre tantos e tantos títulos conquistados pelo Bahia, este tem um sabor especial.
Hoje, Salvador está mais alegre e feliz. Amanheceu azul, vermelho e branco, com um manto sagrado a cobrir corpos que parecem levitar de tanta felicidade. No rosto e na alma dessa gente há um orgulho diferente, uma alegria incontida, o orgulho de dizer: eu sou campeão, eu tenho duas estrelas no peito, eu sou Série A, da elite do futebol brasileiro. Eu sou Bahia!

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